Mineral do Mês

O ano de 2021 é marcado pelo lançamento da exposição As Formas do Ferro, da autoria do Centro Ciência Viva do Lousal, em parceria com Pedro Nuno Alves. Para isso, a Mina de Ciência decidiu dedicar este ano à partilha de fichas informativas sobre diversos minerais que podem ser encontrados em Portugal. Procure, todos os meses de 2021, um novo mineral e descubra mais sobre a sua mineralogia, ocorrências e utilizações.

Janeiro

Carminite

A Carminite é um mineral supergénico, ou seja, forma-se pela alteração de outros minerais pré-existentes. O nome reflete a sua cor carmim mais comum. Os cristais apresentam-se habitualmente na forma de cubos com truncaturas nos vértices e ou nas arestas.
Em Portugal conhecem-se ocorrências na mina de Gestoso (São Pedro do Sul), Mina de lagoa (Viana do Castelo), Adoria (Vila Real) e nas Minas de Vale das Gatas (Vila Real).

Fevereiro

Barite

A barite é um mineral composto de sulfato de bário (BaSO4). O seu nome está associado ao metal de que é formado, o bário (Ba) cuja designação deriva da palavra grega “barys“, que significa “pesado”. Uma outra característica peculiar deste mineral é facto de se tratar de um material termoluminescente e fosforescente. Isto significa que tem capacidade de emitir luz própria, no primeiro caso, quando aquecido e, no segundo caso, depois de ter sido exposto a uma radiação luminosa contínua. O elevado peso específico da barite (4,5) faz com que este mineral tenha uma ampla variedade de aplicações industriais e médicas. É frequentemente usada para tornar mais pesadas as lamas utilizadas nas perfurações e sondagens. Por esse motivo a indústria petrolífera é a maior consumidora de barite em todo o mundo. A barite pode igualmente ser usada como pigmento em tintas ou no fabrico de papel, tecido e borracha. A barite tem a capacidade de impedir a passagem dos raios-X e dos raios gama, sendo por isso utilizada na produção de cimentos de alta densidade que se usam na construção de hospitais, de complexos industriais ou em laboratórios. Mas esta característica particular, de opacidade aos raios-X, faz com que a barite também seja usada em testes de diagnóstico médico. Se um paciente beber um copo de líquido que contenha pó de barite, o líquido revestirá o esôfago do paciente. Uma radiografia da garganta feita imediatamente após a ingestão deste líquido permite a obtenção de uma imagem do tecido mole do esófago, que de outra forma não seria opaco aos raios-X.

A barite é um mineral comum em veios hidrotermais associados a minérios de sulfuretos maciços. Em Portugal, a barite ocorre no Norte e Centro (distritos de Bragança, Aveiro, Castelo Branco, Portalegre, Coimbra) e maioritariamente no Sul do país, associada às massas de minério de sulfuretos maciços na Faixa Piritosa Ibérica (Minas de Aljustrel, Canal Caveira, Lousal, Neves-Corvo, S. Domingos). A China e a Índia são os principais produtores mundiais de barite e também possuem as maiores reservas conhecidas.

Março

Volframite

A volframite designa os termos intermédios da série isomorfa hubnerite (tungstato de manganês) – ferberite (tungstato de ferro). A sua fórmula química geral é (Fe, Mn) WO4. É o minério mais importante de tungsténio (W) sendo responsável por 70% da produção deste metal.

A volframite, para além de apresentar uma elevada densidade (7 a 7,5), caracteriza-se pelo elevado ponto de fusão, o qual lhe é conferido pela presença do tungsténio na composição. O tungsténio é o segundo elemento químico, de ocorrência natural, com o ponto de fusão mais elevado (3 414 ℃), apenas ultrapassado pelo carbono (3 527 ℃). Na génese deste mineral estão normalmente associados processos magmáticos e/ou hidrotermais. Em Portugal destacam-se as ocorrências da Panasqueira / Barroca Grande, Borralha, Argozelo, Vale das Gatas e Salto do Lobo. Os mais importantes produtores mundiais de tungsténio, no ano de 2017, foram a China, o Vietname, a Rússia, a Bolívia, o Reino Unido, a Áustria, Portugal, Ruanda e a Espanha. A China é responsável por 84% da produção mundial de tungsténio e Portugal é responsável por 17% do total da sua produção na Europa. Este facto é ainda mais notável se tivermos em consideração que a produção, em Portugal, provém exclusivamente da mina da Panasqueira que se encontra ativa há mais de 125 anos.

O tungsténio é normalmente usado em diversas ligas duras empregues no fabrico de ferramentas de corte e perfuração, armamento militar, filamentos de lâmpadas, componentes eletrónicos, na indústria aeronáutica e ainda nas indústrias nucleares e química. A origem do nome do mineral é muito controversa. A primeira referência é feita por Agricola, no ano de 1546. Segundo este autor o nome tem origem no antigo alemão Wolf (lobo) + Rham (espuma). A designação Ferberite surge em honra a Rudolph Ferber (Breithaupt, 1832), ao passo que Hubnerite honra o metalurgista alemão Adolph Hübner (Riotte, 1865), (in: Catálogo Descritivo do Museu de Mineralogia Prof. Montenegro de Andrade, por Frederico Sodré Borges, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 1984).

Abril

Calcopirite

A calcopirite é um mineral com a composição química geral CuFeS2. Ocorre na maioria dos depósitos minerais de sulfuretos em todo o mundo e é o minério de cobre (Cu) mais importante desde há milhares de anos. O nome Calcopirite tem origem na palavra grega “Chalkos”, que significa cobre. Devido à sua cor característica, amarelo-latão, e ao seu brilho metálico, foi no passado frequentemente confundida com o ouro sendo, tal como a pirite, muitas vezes referida como o “ouro dos tolos”. Na génese deste mineral podem estar associados processos magmáticos, hidrotermais ou metamórficos.

  • Calcopirite em Portugal

Em Portugal, a calcopirite, ocorre em minas por todo o país (e.g. Montalegre, Barrancos, Almodôvar). Na região Sul de Portugal Continental a calcopirite é explorada nos depósitos minerais polimetálicos da Faixa Piritosa Ibérica (e.g. Neves-Corvo e Aljustrel). Na Mina da Panasqueira a calcopirite ocorre nos filões mineralizados e tem origem hidrotermal, constituindo-se como um dos três minerais economicamente explorados por esta mina.

  • Calcopirite – o minério de cobre (Cu)

Desde há 5.000 anos que a calcopirite é o minério de cobre (Cu) mais importante. O Chile é o maior produtor mundial de cobre. Devido às suas características excecionais na condução da eletricidade, o cobre, destaca-se nas aplicações em equipamentos elétricos, permutadores de calor industriais e naturalmente na condução e distribuição da própria eletricidade. O cobre tem sido um elemento muito importante ao longo da história da Humanidade, quer para na produção de utensílios e objetos de adorno, quer na economia e na cunhagem de moeda.

  • Calcopirite e o COVID-19

A importância, para a Humanidade, do cobre, que é maioritariamente extraído da calcopirite, continua muito atual, desempenhando um papel de relevância no combate à transmissão da doença COVID-19. O benefício do cobre em superfícies de alto contato é conhecido há anos. Investigações recentes demonstraram que o novo coronavírus, responsável pela pandemia de COVID-19, pode sobreviver por dias em superfícies de vidro, plástico e aço inoxidável, mas morre em poucas horas quando em contacto com uma superfície de cobre. O cobre tem propriedades antimicrobianas que são eficazes contra uma ampla variedade de micro-organismos causadores de doenças. Nos hospitais, a utilização de cobre e de ligas de cobre em superfícies frequentemente tocadas pode reduzir o número de pacientes que adquirem infeções durante o seu internamento.

Maio

Autunite

A autunite é um mineral amarelo-esverdeado. Trata-se de um fosfato hidratado de cálcio e uranilo que, cristaliza no sistema tetragonal e é um dos principais minérios de urânio (U). A sua fórmula química geral é Ca(UO2)2(PO4)2 · 10-12H2O. A presença de urânio na sua composição torna-o radioativo, o que implica a adoção de alguns cuidados adicionais no seu manuseamento. Embora a perigosidade associada ao contacto com este mineral seja considerada baixa ou muito baixa, recomenda-se a lavagem das mãos após o seu manuseamento bem como a conservação e exposição dos exemplares por de trás de um vidro.

A origem do nome do mineral autunite está ligada à localidade de Autun, em França, onde foi observado e descrito pela primeira vez em 1852.

A autunite ocorre essencialmente em fraturas e veios de rochas magmáticas (e.g. granitos, pegmatitos), como produto de alteração hidrotermal de minerais de urânio pré-existentes. Na sua identificação recorre-se frequentemente às características peculiares exibidas, tais como por exemplo a sua cor amarelo-limão e a sua intensa fluorescência, no comprimento de onde verde, exibida quando é exposto à luz ultravioleta.

A distribuição geográfica mundial das ocorrências da autunite incluem a Europa, as Américas do Norte e do Sul e a África, em particular os países: Grã-Bretanha, Alemanha, Portugal, Espanha, Brasil, Estados Unidos, Canadá e República Democrática do Congo. Em Portugal este mineral ocorre, essencialmente, nos distritos de Viseu (Mangualde) e da Guarda (Sabugal, Gouveia).

Os maiores produtores mundiais de urânio são o Cazaquistão e o Canadá. Este elemento químico representa uma importante fonte de energia sendo usado como combustível dos reatores nucleares nas reações de fissão nuclear para a produção de energia elétrica. É igualmente usado na produção de armas nucleares. No passado, devido à sua cor vermelha com matizes amarelos, foi utilizado para fazer esmaltes na indústria cerâmica. Atualmente, fruto da radioatividade, as suas aplicações são bastante limitadas.

Junho

Molibdenite

Mineral da classe dos sulfuretos com fórmula química geral MoS2, cujo nome deriva da palavra grega molybdos, que significa chumbo. Por ter uma maior densidade foi considerado durante muitos séculos como um mineral de chumbo, tendo sido posteriormente estudado pelos químicos Carl Scheele e Peter Hjelm, que refelaram tratar-se de um composto de enxofre (S) e molibdénio (Mo).

A molibdenite é o principal minério de molibdénio e ocorre como mineral acessório em rochas ígneas (granitos, pegmatitos e aplitos), depósitos de pórfiros molibdeníferos e por vezes de pórfiros cupríferos. Também pode ocorrer em paragéneses de metamorfismo de contacto, assim como em veios hidrotermais. Ocorre associada a minerais como Cassiterite, Volframite, Scheelite, Quartzo, Arsenopirite, Fluorite, Calcopirite e Pirite.

A nível mundial este mineral pode ser encontrado em países como Austrália, Estados Unidos, Canadá e América do Sul (e.g. México e Chile).

Em Portugal este mineral ocorre no centro e norte de Portugal nos distritos de Vila Real (Montalegre – Minas da Borralha), Castelo Branco (Mina da Argemela), Guarda (Mina de Ribeira de Alva), Viseu, Bragança, Porto, Portalegre e ilhas (Açores e Madeira).

 

O molibdénio

Acredita-se que o molibdénio terá sido um dos elementos presente nas primeiras formas de vida na Terra, uma vez que, hoje em dia, está presente em enzimas de bactérias e organismos do reino Archaea. (Iobbi-Nivol & Leimkühler, 2013)
Das suas utilizações destaca-se a produção de ligas de aço e outros metais por garantir uma maior resistência à corrosão, durabilidade e maior condutividade térmica. É ainda usado como componente de ecrãs tácteis de smartphones e tablets, LCD’s, em painéis solares, como catalisador na indústria do petróleo e em lubrificantes.

O maior produtor a nível mundial de molibdénio é a China, seguindo-se o Chile e os Estados Unidos.

 

Iobbi-Nivol, C., and Leimkühler, S. (2013). Molybdenum enzymes, their maturation and molybdenum cofactor biosynthesis in Escherichia coli. Biochim Biophys Acta, 1827(8-9):1086-101

Julho

Pirolusite

Pirolusite é um dióxido de manganésio da classe dos óxidos e com fórmula química MnO2. O nome deriva do grego pyrós e lýsis que significam fogo e lavagem, respetivamente.

A Pirolusite é o minério de manganésio mais comum. É um mineral difícil de distinguir de outros minerais de manganésio como Todorokite e Manganite. Como características identificadoras destacam-se o seu brilho metálico e a risca negra.
Forma-se em condições oxidantes, de elevado pH, e devido à dissolução de rochas com manganês, havendo a redeposição deste elemento na forma de diversos minerais, sendo um deles a pirolusite.

Ocorre com hábito fibroso, acicular, radial, nodular, cristalino, em agregados maciços e concreções. Pode também ocorrer sob a forma de dendrites que se assemelham a impressão de folhas de plantas fósseis. Nestas circunstâncias é muitas vezes descrito como se tratando de “falsos fósseis”.

Surge em depósitos nodulares em ambientes lacustre, marinho e pantanoso. Está frequentemente associado à atividade hidrotermal submarina, em ambientes igualmente propícios à formação das grandes acumulações de sulfuretos maciços como as que encontram na mina do Lousal. Pode igualmente ocorrer como mineral secundário em crostas de alteração, em paragéneses sedimentares e hidrotermais, associando-se a minerais como Manganite, Psilomelano, Limonite e Braunite.

A nível mundial este mineral tem uma ampla distribuição geográfica, ocorrendo em diversos países, de onde destacam a Alemanha, Brasil, Índia, Estados Unidos da América, Cuba, Marrocos, Gana e África do Sul.

Em Portugal este mineral ocorre nas regiões Norte, Centro e Sul do país, nos distritos de Aveiro, Beja, Braga, Bragança, Castelo Branco, Évora, Faro, Setúbal, Viseu e ainda na Ilha da Madeira. Na região Sul de Portugal continental é possível encontrar uma das maiores explorações de pirolusite em Portugal, que foi a mina do Cercal. Atualmente já esgotada e encerrada, a produção da mina do Cercal, foi maioritariamente aplicada na obtenção dos aços que deram origem à Ponte 25 de Abril, em Lisboa.

O Manganésio

O manganésio (Mn), também designado por manganês, é um elemento químico metálico pertencente à classe dos metais de transição. É o 12º elemento mais abundante da crosta terrestre. O interesse por este elemento químico foi reconhecido, pela primeira vez, no mineral Pirolusite. Este elemento era usado já pelos antigos egípcios e romanos para controlar a transparência do vidro. Ainda hoje, este elemento é utilizado com este propósito, bem como como aditivo em borrachas e como catalisador. Mas a sua maior aplicação são as ligas metálicas, principalmente os aços. Também é usado na produção de pilhas.

Os maiores produtores de manganésio a nível mundial são a Africa do Sul, Austrália, China, Gabão e Brasil.

 

KLEIN, C (2003). THE 22ND EDITION OF THE MANUAL OF MINERAL SCIENCE. John Wiley & Sons, Inc., New York, 641 p.

Agosto

Marcassite

A Marcassite é um sulfureto de ferro com fórmula química geral FeS2. O nome deriva de uma palavra árabe usada para descrever todos os minerais semelhantes à pirite.

A Marcassite é um polimorfo ortorrômbico da Pirite, isto é, ambos possuem a mesma composição química, diferindo apenas na estrutura cristalina. A Marcassite é menos estável do que a pirite. Apresenta brilho metálico, cor amarelo-bronze a branco e risca cinzenta. Este mineral é essencialmente usado como uma fonte de enxofre.

Ocorre com hábito tabular, radial, globular e botrioidal, surgindo em veios metálicos, associado a minérios de chumbo e zinco. É depositada em condições de baixa temperatura a partir de deposições ácidas. Pode também ocorrer como um mineral supergénico. Ocorre muitas vezes em associação com depósitos de calcário e é comum em concreções intercaladas em argilas, margas e xistos.

A nível mundial ocorre em países como a República Checa, Inglaterra e Estados Unidos da América.

A Marcassite é um mineral muito comum em Portugal, podendo ser encontrado nos distritos de Aveiro, Beja (minas de Aljustrel, mina do Barrigão, Aparis, Torgal, Ventosa) Braga, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Guarda, Lisboa, Setúbal (Minas do Lousal), Viana do Castelo, Vila Real e Viseu.

Enxofre

O enxofre é o 16º elemento da Tabela Periódica. Ocorre naturalmente em zonas vulcânicas e fontes termais, ou pode ser obtido como subproduto da refinação do petróleo ou na exploração mineira.

Entre as utilizações possíveis para o enxofre destacam-se o fabrico de ácido sulfúrico (H2SO4), para a produção de fertilizantes, e o tratamento de borrachas.
O maior produtor e exportador de enxofre é o Canadá, seguido pela Índia e Bahrein.

Curiosidade

O mineral marcassite é conhecido como o “inimigo dos colecionadores” por, a curto prazo poder danificar os estojos ou mesmo outros minerais das coleções. A instabilidade composicional e estrutural deste mineral conduz, frequentemente, a que os exemplares reajam com a água presente na humidade natural do ar, e que inicie um processo de desagregação que leva à produção de um pó esbranquiçado. Neste processo liberta-se algum enxofre que reage com a água e o oxigénio disponíveis para produzir ácido sulfúrico. É a presença deste ácido, e não a marcassite por si só, que intensifica a degradação do mineral, dos estojos dos colecionadores e dos minerais que possam estar próximos. Quando este fenómeno ocorre numa mina de sulfuretos maciços, a uma escala regional, diz-se que ocorre drenagem ácida mineira (DAM). As seguintes reações químicas, apresentadas em baixo, explicam este processo.

 

4FeS2 + 11O2 = 2Fe2O3 + 8SO2

[Pirite] + [Oxigénio] = [Óxido de Ferro (hematite)] + [Dióxido de Enxofre]

2SO2 + O2 = 2SO/3

[Dióxido de Enxofre] + [Oxigénio] = [Óxido Sulfúrico]

SO3 + H2O = H2SO4

[Óxido Sulfúrico] + [Água] = [Ácido Sulfúrico]

 

Deer, W. A.; Howie, R. A. & Zussman, J. (2010) – Minerais Constituintes das Rochas. 4ª Edição da Fundação Calouste Gulbenkian, 727 pp.

KLEIN, C (2003). THE 22ND EDITION OF THE MANUAL OF MINERAL SCIENCE. John Wiley & Sons, Inc., New York, 641 pp.

https://pt.ripleybelieves.com/countries-who-export-most-sulfur-9977