Nunca te deixes intimidar por seres rapariga, faz o teu trabalho o melhor que conseguires e se ouvires um comentário menos bom, pensa no que de construtivo podes tirar dele (se for nada, ignora) e no dia a seguir darás duas vezes o teu melhor!

Filipa Luz

Doutorada em Geologia – Especialização em Metalogenia

Jovem Investigadora

Nota Biográfica

Quando entrei na Faculdade, a primeira percepção que tive sobre a investigação em Portugal foi que apenas existia uma pequena percentagem de mulheres envolvidas. Com o passar dos anos acreditei, talvez porque o departamento de geologia da FCUL tinha um grande número de bolseiras que as coisas não seriam assim tão diferentes entre homens e mulheres. Hoje passados 10 anos a trabalhar na FCUL e em particular na minha área (Recursos Minerais) são poucas as que se aguentam. Marcadamente uma profissão de “homem”, onde ser mulher têm os seus quês.

Recentemente penso que existe uma maior atenção para este desiquilibrio de género e uma tentativa de balanço e eu concordo, apesar de ainda limitado. Continua uma percepção que o trabalho de investigação das muheres em geologia deve ser feita no laboratório entre análises químicas e folhas de excel, enquanto que os homens maioritariamnete fazem o trabalho o trabalho mais fixe e fazem as campanhas de campo. Não gosto de generalizações, mas já fui desconsiderada para certos trabalhos, porque carregar caixas de sondagens não é para mim. Felizmente, acho que faço parte de uma perccentagem pequena, mas habituei-me a estar rodeada de homens e ser tratada com respeito e por vezes um pouco de admiração.

Marcadamente uma profissão de “homem”, onde ser mulher têm os seus quês.

“… ganhando a percepção do quão importante era o trabalho de investigação de um geólogo.”

Quando penso o que me fez escolher a carreira de investigação a única coisa que me ocorre é o meu desejo continuo de olhar para problemas e procurar soluções para os resolver. Sou irrequieta por natureza. Em 2001, com a queda da ponte entre os rios, lembro-me de ouvir o meu pai dizer que afinal o trabalho de geólogos seria necessário para construir e manter as pontes seguras. E mesmo estando actualmente afastada da geologia de engenharia, fiquei com “o bicho atrás da orelha” e fui seguindo as noticias, ganhando a percepção do quão importante era o trabalho de investigação de um geólogo.

As minhas colaborações com o estrangeiro foram pontuais e fui tendo conhecimento de como era o funcionamento das carreiras ciêntificas no estrangeiro através de amigos e colegas que cedo arriscaram a construir uma carreira lá fora.

Acima de tudo penso que em Portugal ainda não existe uma verdadeira carreira ciêntifica, muitos de nós somos considerados eternos estudantes e bolseiros (sem contratos, mesmo trabalhando as mesmas horas que um trabalhador normal, entregando relatórios e avaliações regulares). Talvez o que mais me choque, é a falta de apoio à maternidade para quem segue este percurso…não são poucos os casos de desistências, quando se opta por ter uma família.

A percepção pública, pelo menos na área das ciências da terra, é a de uma ciência não prioritária. Felizmente acredito que estamos a dar pequenos passos para mudar…apesar de achar que estamos longe de poder chamar carreira ciêntifica.

“Felizmente acredito que estamos a dar pequenos passos para mudar…”

“O meu trabalho centrou-se na utilização da geoquímica das rochas metasedimentares como guias de prospeção mineral”

Os últimos e primeiros 10 anos da minha carreira são marcados pela dedição à prospeção mineral na Faixa Piritosa Ibérica (importante pronvíncia de onde se estraem metais base como Cu, Zn e Pb). O meu trabalho centrou-se na utilização da geoquímica das rochas metasedimentares como guias de prospeção mineral, ou seja, avaliando as suas características químicas podemos perceber se estamos na proximidade de uma nova ocorrência mineral. Alguns destes metais base, como o Cu, são utilizados condutores em fios elétricos ou nos nossos telemóveis.

As minhas perspectivas futuras têm de incluir pensar num mundo mais amigo do ambiente e acredito que nós como cientistas da terra temos um papel fulcral. A curto prazo tenciono experienciar trabalhar noutros paises (Irlanda, Canadá..) aumentar as minhas competências e ampliar o meu campo de visão no que toca ao conhecimento da terra, para poder assim contribuir para a transição energética. Se me for possível continuar a trabalhar para conhecermos os recursos que temos para os poder extrair e usar de forma equilibrada. Mais uma vez usar os problemas para procurar respostas. .

“Mais uma vez usar os problemas para procurar respostas.”

Que conselho daria a uma jovem que pretenda investir numa carreira de investigação?

Os três maiores conselhos que posso deixar a qualquer rapariga que queria seguir investigação é:
1. Faz algo que realmente te faça feliz. Cito um conselho de pai (cliché, mas 100% o meu segredo). “Faz o que te apaixona e nunca trabalharás um dia na vida;
2. Nunca te deixes intimidar por seres rapariga, faz o teu trabalho o melhor que conseguires e se ouvires um comentário menos bom, pensa no que de construtivo podes tirar dele (se for nada, ignora) e no dia a seguir darás duas vezes o teu melhor!
3. Não ponhas a investigação à frente da tua vida pessoal. Encontra o teu balanço, porque a tua vida pessoal contém pilares importantes que te ajudam a equilibrar quando tropeças (ou cais) na investigação.